Em reportagem de Rubens Valente publicada, hoje, pela Folha de São Paulo, o ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) aparece em diálogos gravados antes da aprovação do impeachment da presidente Dilma pela Câmara dos Deputados. Ele defende um pacto político para deter o avanço da Operação Lava-Jato.
Jucá conversa com Sério Machado, ex-presidente da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobras e alvo da Lava-Jato. A certa altura de um dos diálogos, Machado comenta:
- O Janot [Rodrigo, Procurador Geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês.
Machado sugere que o envio do seu caso para o juiz Sérgio Moro seria uma maneira de força-lo a delatar e a incriminar líderes do PMDB. "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo", argumenta Machado.
Jucá concorda que o caso de Machado não deve passar à órbita de Moro. E argumenta:
- Eu acho que a gente precisa articular uma ação política. [...] Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria.
E orienta Machado a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
Jucá acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". No que diz Machado:
- Aí parava tudo.
Jucá responde:
- É. Delimitava onde está, pronto.
Em outro diálogo, Jucá confessa:
- Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
E Machado diz:
- Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]
Os diálogos somam 1h15m. Foram reunidos numa fita entregue à Procuradoria Geral da República.
No discurso com o qual empossou seus ministros, o presidente em exercício Michel Temer fez referências à importância para o país da Lava-Jato e se comprometeu com a sua continuidade.
Depois, em uma das várias entrevistas que concedeu, repetiu que seria implacável com ministros envolvidos em irregularidades.
Conspirar para obstruir a Justiça é algo mais grave do que qualquer irregularidade. Por ter conspirado, o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) foi preso e acabou perdendo o mandato.