CERRO DO GALO DA SAUDADE....
Desde de menino, nos meus seis aos de idade, sempre visitava meus tios, Romário e Fermina Colaço, no Cerro do Galo, interior de Matos Costa SC. No forte da década de 1970, chegando ao seu final, lembro, dos arvoredos, árvores frutíferas diversas, carregadas de gostosas e suculentas frutas.Cada vez que minha mãe Matilde Colaço falava em visitar seu irmão Romário, para nós era uma alegria. Minha mãe"catava" uns troquinhos dali, uns daqui, para poder pagar as passagens de ônibus, totalmente caras para a época. Além de minha mãe sempre levava meu irmão mais novo Izaquel e o Teófilo um dos filhos velhos.
O ônibus sempre chegava no entardecer, minha tia Fermina, corria, arrumar os quartos para família inteira pernoitar. Os colchões de palha era macio e tinha um cheiro característico do interior.
A parte mais esperada era o jantar, repleto de feijão com arroz, super temperado com temperos da horta da casa. No menu da noite tinha, feijão, arroz, frango caipira, batata da lavoura, batata doce e figado de gado frito. Era sensacional, logo após a janta era hora de se reunir ao redor do fogão caipira dos meus tios para ouvir os causos contados pelo querido tio Romário e tia Fermina. Parece que viajávamos no tempo, quando percebia, o relógio de de bolso do tio, já anunciava a madrugada. Hora do repouso. Dormíamos pensando o que teria para o café da manhã; logo cedo por volta das cinco da manhã, ouvia-se os primeiros movimentos, dos meus tios fazendo o fogo, logo escutava a água fervendo e a conversa de minha mãe com meus tios, tomando chimarrão. Quando nós as crianças levantava, tia Fermina arrumava a mesa, com pão de centeio, broa de milho, cuca caseira e bolinho da graxa. o café tropeiro era feito na hora, pó sobre água e depois uma brasa quente fazia o pó descer. Leite crioulo fervido, tudo combinava, estava pronto o delicioso café da colonia. Lembro com saudades da "sanguinha", córrego que fornecia água para casa, para o chuveiro de latão e para lavar roupas. Ainda na madrugada, nas primeiras horas da manha, o cantar do galo se misturava cm o piar dos pássaros e demais aves da casa, patos, angolistas entre outras espécies. por volta das nove horas era hora de visitar o pomar de frutas e se deliciar com as várias frutas da e´poca, novembro, dezembro. Ameixas, maças, e tantas outras. No almoço, o cheiro de pirogue temperado já era sentido de longe, como ela fazia? Desfiava o frango caipira, cozinha a batatinha e amassava com diversos temperos verdes e cozinhava na mesma água do frango, era delicioso.A salada do dia era tomate da lavoura, "aradithe"(espécie de salada do mato), couve, repolho e muito amor.
O cheiro de feijão com toucinho entrava narinas adentro, várias especies de comidas da colonia era servido. deliciava-se com tudo aquilo, numa simplicidade exemplar, onde tudo era tão humilde, mas tão gostoso. depois do almoço era hora de visitar os vizinhos, família Smeka, Iagnycz, Ribeiro e Santos. Nós meninos envergonhados , quando via as meninas bonitas se escondia perto da mãe, apenas o mais velho dos irmãos puxava uma conversa. A noite tudo se repetia, mas infelizmente chegava o dia do retorno, tia Fermina, "carregava" minha mãe com pão de centeio,broa de milho, frutas, verduras e carne caipira. Disse ela: " Comadre Matirde, não esqueça de levar o remédio pro João tomar, este piá está tão magro, com cara de doente". Parece que ela adivinhava, eu era o mais doente da família, o menino que não tinha futuro, mas meu pai dobrava o joelho todo dia em meu favor. Hoje estamos ai, as orações dos meus pais, os remédios da tia Fermina me ajudaram muito. Atualmente infelizmente só resta a saudade.