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História

A HISTÓRIA DO TIO JUCA.

EX VEREADOR

Publicada em 24/03/2022 às 12:44h - 291 visualizações

por RÁDIO DESTAQUE


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JOSÉ BARILKA EM CALMON, ANOS DE 1950  (Foto: ARQUIVO JB)

PRIMEIRA IGREJA DE MADEIRA DE CALMON.

JOSÉ BARILKA COM VISTA PARCIAL DE CALMON AO FUNDO.

 

O PASSADO DO TIO JUCA – PARTE I

           

José Barilka, carinhosamente chamado de “Tio Juca”, nasceu no dia 23 de dezembro de 1936, em Porto União, residiu em Calmon desde 1942, tem três filhos: Sandra, Claudia e Sandro. Viveu em Caçador até os 67 anos, onde curtiu sua aposentadoria, junto com a filha Sandra, seu genro Chiquehalli (de origem japonesa) e os netos Junithi, Mayara, Jonathan e Mirella. Afirmava estar feliz em Caçador, mas sentia muitas saudades de Calmon e dos amigos que por lá deixou. Dois anos após essa entrevista faleceu em Caçador.

“Tio Juca” trabalhou em uma só empresa ao longo de sua vida, a firma Gringos Madeiras S/A, onde iniciou e encerrou sua carreira. Ele afirma que na época em que chegou a Calmon, a cidade tinha um grande movimento e deveria ser a capital da madeira, devido às grandes madeireiras existentes no local.

“O movimento de trens era grande, principalmente na época de carregamento e transporte de madeiras, pois o único meio de transporte era a via férrea. Tinha dias que os trens tinham que ficar em Presidente Pena, Anhanguera ou General Dutra, aguardando ao outros trens saírem carregados para poder também carregarem. Era incrível, hoje só resta a lembrança”, emociona-se Tio Juca.

José ainda conta que as serrarias que ali trabalharam eram: Gringos Madeiras S/A, Batista Pigatto, madeireira São Roque da empresa Lumber, Serraria Grande e outras distribuídas pela região como a 2ª e a 3ª Fita, fábrica de pasta do Meriech e a fábrica de pasta de Guilherme Woringher. Todas descarregavam o produto em Calmon para o transporte via trem. Na época existia um pequeno aeroporto no centro da cidade para pouso de pequenos aviões que vinham de Porto União, Curitiba, Florianópolis e São Paulo, usados muitas vezes pela Lumber, pelos Bornhausen e outros donos de serrarias ou compradores de madeira. Era uma festa, o pessoal corria para ver quando descia um avião. “Outro fato marcante, era a passagem dos trens de passageiros às 10h10 da manhã. Era o momento em que o povo se reunia na estação. Havia muitas moças bonitas, rapazes, senhores, inclusive o Enéas Athanázio [escritor catarinense] era um dos que estava conosco”, acrescenta.

Logo que o trem misto passava, o pessoal voltava para seus afazeres. Naquela época não tinha campo de futebol, mas sempre aparecia uma bola e os jovens começavam a jogar no pátio da estação. Esse era um dos passatempos da época.  Alguns anos depois foi criado o Clube Esportivo e Recreativo Calmon, época em que foi feito o campo de futebol, onde participavam toda a elite da época e da região.

Sobre o Contestado, Tio Juca diz saber o que todos praticamente já conhecem. Ele conheceu um senhor chamado Paulo, que lhe contava que quando  voltou a Calmon a cavalo, viu uma coisa lamentável ao lado da estrada: muita gente morta e os cachorros e os porcos devorando os corpos. Aquele senhor disse que tratou logo de sair dali, pois não sabia o perigo que estava correndo, os jagunços tinham atacado Calmon na noite anterior, cinco de setembro de 1914.

A respeito de seu trabalho na serraria, onde trabalhou como motorista, diz que na época o serviço era pesado, carregavam-se caminhões de madeiras no braço e o arrasto das torras era feito a base de bois, não existiam tratores. As estradas eram feitas na base da pá e picareta. “As pontes e bueiros era serviço dos motoristas e ajudantes, não tinha quem fizesse, quando chovia, voltava do mato a pé, ou dormia nos caminhões que não conseguiam sair do mato”, conta Tio Juca. Disse ter muitas saudades dos companheiros da serraria e do mato onde passaram momentos bons e outros difíceis. Na época se trabalhava com prazer, com vontade, formava-se uma disputa para ver quem produzia mais. Barilka disse que sempre perdia, seu caminhão era o mais velho. As marcas dos caminhões eram Internacional, Chevrolet, Ford, GMC e tinha inclusive um caminhão do Exército, o único que possuía um guincho que podia arrastar toras mata adentro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EX-FERROVIÁRIO E SEUS TRABALHOS

           

O aposentado da Rede Ferroviária Federal, Mamedes Zaias, 67 anos, casado com Maria Pacevicz Zaias, é pai de 11 filhos: Paulo, Alberto, Valdecir, José Renato, Marcos, Rui Roberto, Vera Lúcia, Neiva, Eliane, Gilberto, e tem 12 netos. Ele foi ferroviário por mais de trinta anos. Atualmente vive com a família em seu sítio a beira da estrada de ferro, onde, segundo ele, foi o local em que “criou” seus filhos.

Mamedes confessou que sente muitas saudades do tempo em que trabalhou na ferrovia, apesar de ter sido sofrido. Ele diz que às vezes chega a sonhar com os velhos tempos. Já a esposa Maria, que também é de família de ferroviários, disse que é um orgulho estar ao lado do esposo e dos filhos todos esses anos. Comentou também que desde pequena já reside à beira de uma estrada de ferro, mas o que a deixa triste é o abandono em que se encontra a linha férrea que no passado foi o “ganha-pão” de seu pai e esposo.

Da família de Mamedes apenas dois filhos trabalharam na Rede Ferroviária Federal, Paulo e Alberto. “Sinto muita saudade dos meus velhos companheiros, trabalhávamos com uma turma de 21 homens, dos quais apenas cinco ainda estão vivos. Na estrada de ferro era muito sofrido, principalmente quando acontecia algum acidente. Tudo era feito no “muque”, com a força humana”, conta o ex-ferroviário.

Disse que jogou muito futebol por volta de 1949, e Calmon era muito movimentado devido às grandes serrarias que existiam na época e as demais estações, como Presidente Pena, Anhangüera e General Dutra.

Na cidade, existia o hotel do empresário de Porto União Napoleão Pigatto, o armazém do Murilo Colin e muitas residências. Seu Mamede residiu também na comunidade Anhangüera e lembra-se das grandes festas que aconteciam em Calmon, momento em que o povo comparecia em massa e era difícil acontecer alguma briga. Zaias conheceu o escritor Enéas Athanázio nos tempos de menino. “O Enéas era muito inteligente, inventava umas pistolas de cano de água, de alumínio e dava para fazer muitas brincadeiras. Era um rapaz muito bom e gostava de servir as pessoas. Sua mãe, dona Irma também gostava de ajudar o próximo. Tenho saudades do Enéas”. Acrescenta.

Sobre a Guerra do Contestado, “Seu Mendes”, como é carinhosamente conhecido na região, lembra apenas o que os antigos lhe contavam, entre os quais Francisco Paes, que comentava sobre a “mortandade” acontecida em Calmon e Matos Costa. Dizia ele que os corpos dos homens que trabalhavam na serraria da Lumber ficaram vários dias a mercê dos cães e porcos que disputavam com os abutres a carne humana em estado de decomposição. Restos queimados da serraria, casas de operários e a estação formavam uma imagem de terror. 

Mamedes e a esposa Maria adoram de viver junto à natureza. Quem chega  ao sítio da família, em General Dutra, em meio a muitas árvores nativas e outras frutíferas, é bem recebido com um chimarrão seguido de um gostoso café forte com broa de milho e pão assado no forno de barro. No final da entrevista, ele deixou um recado para os jovens. “A educação, o respeito aos pais e semelhantes são os principais fatores para formar um cidadão de caráter nos dias atuais”, ensina.

AUTOR: JORNALISTA JOÃO BATISTA DO LIVRO A HIOSTÓRIA DE CALMON NA GUERRA DO CONTESTADO.

 




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