MATOS COSTA DE TANTAS SAUDADES.
Quando paro para pensar que a querida São João dos Pobres, esta completando 57 anos de emancipação política administrativa, retorno ao tempo e vamos embarcar na “Máquina do Tempo”, retornar ao passado do Rocio, quando famílias inteiras de negros viviam a sua vida cultivando lavouras, construindo suas casinhas a beira do Riacho Rocio.
Imagino como deveria ser bom, ver o sol nascendo em meio às densas florestas de araucárias, que no mês de maio, junho e julho o pinhão era farto, se colhia direto do chão depois de maduro. Quantas sapecadas foram feitas nos capões de matos em meio aos verdes e lindos campos que rodeavam o pequeno povoado de São João dos Pobres.
Tempos em que São João Maria passeava pelos mesmos campos pregando o bem e ensinando o povo para se preparar para ver o “carreiro do Dragão de Fogo”(Trem), ou para se preparar para ver o ‘PÁSSARO DE FERRO” (avião) que”rasgaria os céus”, assustando muita gente. Locais onde deixou sua marca através de cruzeiros e pocinhos para o povo matar a sede, batizar crianças, águias que nunca secaram e depois de séculos permanecem intactos.
Lembrar que quando os milhares de trabalhadores suaram sangue, para implantar uma ferrovia em um terreno tão desajustado para tal fim, mas com a engenharia superaram as densas serras de Engenheiro Mello, Nova Galícia e Cerro Pelado.
Em 1.908. 1.909 o barulho do Trem de Ferro, assustou os moradores da região que contavam um para o outro:
-São João Maria tava certo, o dragão de fogo chegou!
Com o passar dos anos o povo se acostumou e passou a residir à beira da mesma ferrovia, admirando aquela máquina que rebocava vagões de cargas e de passageiros mundo afora. Até que em 1.914, no dia 06 de setembro, uma tragédia ceifou a vida de muitos caboclos que nada tinham a ver com a guerra do Contestado ou com a ferrovia e seus pistoleiros que mandavam e desmandava, como se no Brasil fosse o segundo “Velho Oeste Americano”. Naquele trágico dia, muitos foram mortos somente pela ganância de um homem que desobedeceu as ordens dos caboclos que queria de volta a liberdade e o que lhe fora tomado. Venuto Baiano. Matou mulheres e crianças e no mesmo dia, o único comandante do exército que entendia a revolta cabocla, tombou morto pelas mãos daqueles que ele defendia. Morria o Capitão João Teixeira de Matos Costa.
Depois disso muitos anos se passaram, moradores de São João construíram raias de corridas de cavalos, que divertia muita gente, até um aeroporto existiu nas cercanias da cidade, que também continham várias serrarias e fábricas de vasos de xaxim.
Durante o dia moradores relembram que parecia tudo combinado, os barulhos das serrarias se misturava com o resfolegar das locomotivas manobrando no pátio da estação. As mães lavavam roupas, enquanto os filhos, alguns estudavam, outros levavam o café da tarde pra os pais, nas serrarias, outros ajudavam na roças espalhadas. Seis horas da manhã as serrarias acordavam os trabalhadores, com o já conhecido apito, às 11h30min se repetia, avisando que se aproximava a hora do almoço. As 15h30min. Apito para o tradicional café da tarde e as 18h00min horas o apito do fim do dia anunciando que o expediente daquele dia havia terminado.
Durante a noite os pais, nas muitas “cozinhas de chão batido”, assavam pinhão, enquanto contavam causos caboclos para os filhos que dormiam no colo da mãe com o pensamento mergulhado nas histórias. Outras famílias ouviam as poucas emissoras de rádio, tudo era muito simples, mas ao mesmo tempo conciliador e romântico.
Carroções carregados de toras emparelhavam no pátio da ferrovia ou da serraria, ao longe se ouvia o estalar dos reios (reador, relhos) e ranger dos freios.
Moradores mais antigos às vezes deixam escorrer uma lágrima quando se lembram do apito do trem chegando e partindo de São João. Namoradas, maridos ou parentes abanando das janelas do trem. Ou os pais na plataforma da estação se despedindo dos filhos que seguiam para o exército, outros foram para a guerra e nunca retornaram. Quem não se lembra da instalação da Segunda Companhia do 5º BEC em Matos Costa, a beira da ferrovia, para construção de estradas de rodagens e do segundo trajeto da ferrovia de Porto União a Matos Costa???.
Grandes caçadas eram organizadas, pecaria no Rio Preto, alguns moradores me lembraram da construção de duas barragens para movimentar duas fábricas na região. Uma no Rio Preto e outra no Rio Jangada na histórica Comunidade do Salto Lili.
Histórias que se eternizaram com o passar dos tempos, mas que permanecem vivas nas memórias daqueles que preservam e gostam de história. Matos Costa das grandes fazendas de gado, das grandes lavouras, dos pinheirais, do Rodeio Crioulo, das nevascas que encobriam os territórios nos gélidos invernos que passaram e ainda permanecem frios devido à altitude.
Em abril de 2.019. Matos Costa completa 57 anos de Emancipação Política Administrativa, tudo o que foi feito construído com o passar dos anos foi em prol do Povo Amigo desta terra.
Não nasci aqui, mas sou filho de Calmon, que é filho de Matos Costa.
Sou um simples escritor caboclo que registro através da caneta o que me contam no dia a dia que convivo com este povo.
Parabéns São João dos Pobres, Parabéns Matos Costa.
João Batista Ferreira do Santos.(JB).
Jornalista e Pesquisador do Contestado.