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História

AS BOTAS DE BORRACHA DO MEU PAI

A ETERNA SAUDADE....

Publicada em 13/05/16 às 19:19h - 1407 visualizações

por Rádio Destaque Regional


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 (Foto: Rádio Destaque Regional)

Botas de borracha de meu pai.

Olhando meu filho Jones calçando suas botas de borracha, lembrei de meu pai, Pedro Ferreira dos Santos, o "Pedro Claro", como era carinhosamente conhecido.

 Passavam-se os anos, em cada época de natal meu pai já começava a se preocupar com o que daria para nós. Calçava sua velha bota de borracha, calça com remendos e, "la se ia" meu pai, abrir valas em "banhados", para tirar um pouquinho do que os grandes fazendeiros lhe pagavam. Mais exploravam do que pagavam o que meu "velho pai" merecia. Corria para o Armazém, lá também era explorado e, quase nada conseguia, a não serem alguns quilos de feijão, arroz, um pedaço de charque (carne seca), dois quilos de café tropeiro. Parava e pensava:

_ O que vou levar para meus filhinhos?

 No outro dia, colocava uma roupa melhor, calçava seu "velho sapato", chapéu na cabeça e ficava a beira da estrada da amizade, atualmente SC 135, tentando uma carona, para economizar o dinheiro da passagem do ônibus. Passavam caminhões e os motoristas faziam de conta que não o viam. Quando menos se esperava lá vinha o "João Pequeno" com seu Mercedez Bens, carregado de toras de pinheiros com destino a Caçador, já ia parando. Homem de coração bom gritava:

_Embarque seu Pedro.

_Graças a Deus que o senhor ainda não tinha passado seu João! Falava meu velho pai.

No trajeto a conversa rolava solta, e no final da viagem, "seu João"  dizia.

_Vou dar mais uma viagem e no fim da tarde voltarei pra Calmon, me espere no ponto da dona Rosa, seu Pedro.

Nós, seus filhos, já estávamos no barranco em frente a nossa casinha, esperando o que meu pai compraria para nós.

Quando ele chegava, a alegria era grande. Ele tirava das sacas de comida, doces, "sorvete seco", pirulitos e balas. Como eram gostosos aqueles doces comprados com o dinheirinho suado que meu pai conseguia.

 Várias vezes, nas noites de natal, carros passavam "buzinando" com o "velhinho de natal", mas sempre desviavam das casas dos mais pobres. O destino? As casas dos que tinham um pouco mais do que nossas famílias. Eu e meus irmãos apenas olhava, junto com outros amigos de famílias pobres, aquela festa dos que se achavam acima dos "mais pequenos".

No dia de natal, ainda era pior, o cheiro das carnes assadas chegavam fortes em nossas narinas, mas, eram dos churrascos dos vizinhos que tinham mais dinheiro. Nosso almoço? Feijão, arroz e carne de galinha, presenteada pelo pessoal da Congregação Cristã no Brasil. Era uma festa.

Tudo aquilo me marcou e prometi para mim mesmo, um dia vou fazer para os mais pobres, o que estas pessoas não fazem conosco. Lembrava da bota de borracha usada pelo meu pai e pedia a Deus que abençoasse aquele caboclo, chamado Pedro Ferreira dos Santos.

 O tempo passou e com a ajuda de amigos, há 22 ANOS REALIZAMOS o Natal das Crianças Carentes de Calmon. Não quero que crianças pobres apenas assistam a alegria dos outros, mas vivam momentos de natal. AGORA VAMOS PARA O 23º NATAL NOVAMENTE E CONTO SEMPRE COM AS MÃOS AMIGAS DAS PESSOAS SINCERAS E "BOAS" DE CORAÇÃO!

As botas do meu pai não existem mais, apenas a saudade daquele rosto meigo e seus conselhos permanecem. Uma velha foto enfeita  minha casa, sou uma das sementes que ele deixou e vou fazer jus desta cor e raça que ele me deixou!

 

 




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