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Crematório de Perdizinhas é restaurado por pesquisadores

GUERRA DO CONTESTADO

Publicada em 29/02/16 às 18:36h - 3433 visualizações

por Diário Caçadorense.


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 (Foto: Divulgação;)

No ano 2000 quando participava de uma expedição exploratória com seus alunos, o geógrafo e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Nilson Fraga descobriu a existência de cre­matórios, que serviram para ocultar restos mortais de vítimas na Guerra do Contestado.

De acordo com Fraga, corpos de caboclos e militares foram queimados em fornos de barro, com fogo de grimpa de araucária e nó-de-pinho. As vítimas eram jogadas em buracos feitos no chão de terra com muros de taipa e de pedra de mais ou menos um metro. Há 100 anos do fim do combate, pelo menos doze fornos de extermínios foram registrados em propriedades privadas sem a devida conservação e manutenção.

Com intuito de promover o resguardo do patrimônio histórico, no dia 17 de janeiro deste ano, um grupo de pesquisadores restaurou e recolheu amostras de um crematório localizado na comunidade de Perdizinhas, interior de Lebon Régis. "É impossível quantificar os cremados nesses fornos, até porque o número de mortes na batalha não é algo pacificado entre pesquisadores: dizem que foram de 10 a 20 mil, mas o número poderia chegar a 30 mil", explica o professor.

Leia abaixo a entrevista completa sobre a expedição Perdizinhas:

Quando foram realizados os trabalhos?

Os trabalhos de restauração e coleta de materiais para pesquisas no Laboratório de Genética da Universidade Estadual de Londrina, se deram em duas datas distintas. No dia 17 de janeiro de 2016, ao longo de todo o dia, foi feito a restauração do espaço físico propriamente dito e uma cerca para proteger as taipas que delimitam o local do crematório, contando com um grande número de voluntários. No dia 16 de fevereiro, das 17:30 até às 19 horas, foi marcado outro encontro para mais coletas de matérias para exames genéticos, quando novamente se abriu um pequeno buraco no solo, de aproximadamente um metro de profundidade, até se encontrar o material necessário. Nesse segundo encontro de trabalhos, estavam comigo no crematório o Pe. Valmir Pasa, Carlos Nedi Veiga da Silva, Cedival Alves Guedes e Anice Veiga da Silveira. 

Qual objetivo da expedição?

O crematório de cadáveres da Guerra do Contestado, em Perdizinhas, atual município de Lebon Régis, se encontrava abandonado fazia muitos anos, então resolvemos, com autorização da família proprietária do terreno onde se localiza esse patrimônio material, restaurar, ou pelo menos arrumar e cercar o mesmo para que não fosse completamente destruído, sendo que este é um dos mais importantes sítios históricos do Contestado. O objetivo maior dessas nossas ações em prol do patrimônio do Contestado se deve ao fato do reconhecimento do crematório de Perdizinhas - como crematório de cadáveres -, utilizado durante a Guerra do Contestado, pois ainda há dúvidas entre cidadãos, políticos e estudiosos sobre a utilização desse meio de eliminação dos corpos de caboclos e soldados durante a Guerra.

Quem participou?

A restauração, melhorias e salvaguarda por meio de cercamento do Crematório de Perdizinhas foi uma necessidade levantada durante a Semana do Contestado de Lebon Régis, em julho de 2015, pois o mesmo se encontrava em estado lastimável de conservação. O grupo que trabalhou para a melhoria das condições físicas do crematório, foi contatada por Carlos Nedi Veiga da Silva, que, conjuntamente com Cedival Alves Guedes, Anice Veiga Silveira e Nilson Cesar Fraga se reuniram ao longo do dia 17 de janeiro de 2016, com Ederson Conceição do Amaral, Romário Maurício Pinheiro, Gabriel Cardoso, Leonardo Maurício Pinheiro, José Costa Moreira, Antonio Joares Cardoso, Antonio Alves Pinheiro, Claudio Alves da Costa, Ademir Batista Costa, Juliara Adelina Silveira, Maurita Aparecida Abraão da Silva, Mateus Abraão da Silva, Marcelo Abraão da Silva, Nivaldo Silveira Júnior, Márcia Elizabete Schüler e Célia Regina de Bortoli e fizeram os serviços de restauro: aparamento da grama, mourões para a cerca de arame farpado, catação e recolocação das pedra da taipa do crematório e escavação de um pequeno buraco para coleta de material humano, no caso, fragmento de ossos, que visa comprovar a existência e funcionamento do crematório de cadáveres de Perdizinhas.

Como foi o processo de restauração?

Foram dois encontros de muito trabalho, principalmente no dia 17 de janeiro, quando se fez a limpeza do crematório e se ergueu a cerca para proteger o mesmo, sobretudo da entrada de animais de grande porte, foi quando decidimos abrir o primeiro buraco para ver se havia vestígios e, a partir da verificação dos vestígios matérias de cremação registrados a pouco mais de 100 anos, decidimos colocar algumas amostras em copos plásticos e, depois, fomos até a cidade, quando Márcia Elizabete Schüler comprou potes plásticos com tampas para guardar o que havíamos coletado, num supermercado da cidade. O material coletado foi levado para Londrina, para fazer estudos mais profundos sobre o que havíamos encontrado, no Laboratório de Genética da Universidade Estadual de Londrina. Por ter sido uma coleta aleatória, resolvemos fazer algo mais criterioso, com a ajuda do pessoal do laboratório, levamos material mais adequado e procedemos a mais uma pequena escavação no crematório no dia 16 de fevereiro de 2016, quando munidos de máscaras, toucas, luvas, pinças, pincéis, recipientes plásticos, pás, trados e enxadas, devidamente esterilizados e colocados numa bolsa térmica, sendo entregues no laboratório, na UEL, no dia 18 de fevereiro, estando, agora, no aguardo dos testes de DNA, para a devida comprovação do calcinamento dos corpos no crematório de Perdizinhas.

Quais são os fatores levaram a fazer os estudos?

Conheço e visito o crematório de Perdizinhas desde 2000, quando um acadêmico do curso de História da UnC me apresentou o lugar. Desde então, já visitei o local mais de 100 vezes, sendo que 45 dessas visitas foram feitas com alunos e professores de História e Geografia, de graduação e pós-graduação, do Paraná, Santa Catarina e de pelo menos uns 15 estados federados brasileiros e de países da América e da África. Pude ver no decorrer desses 16 anos de estudos no Contestado, com visitas frequentes ao crematório, que o mesmo foi se deteriorando ao longo do tempo, tendo quase desaparecido no meio do mato e feito depósito de resíduos sólidos. Mas foram as ações realizadas na Semana do Contestado de Lebon Régis que nos levaram, enquanto grupo, em buscar uma solução para o abandono desse que é um dos mais importantes patrimônios materiais do Contestado, tínhamos que salvar o crematório. Com a inquestionável ajuda de amigos lebon-regenses, as ações nos levaram até a restauração mínima do crematório, na realidade, uma arrumação para impedir que o mesmo desaparecesse no espaço e no tempo. Nesse processo, resolvemos fazer uma pequena escavação, numa porção mínima do crematório e coletar material para estudos científicos nos laboratórios da UEL, coisa que estamos realizando nesse momento, cujos resultados devem sair em breve.

A expedição contou com alguma parceria?

Não temos parceiros, somos parceiros, um grupo que se formou a partir do Facebook, entre eu e Carlos Nedi Veiga da Silva, que foi agregando outras pessoas da comunidade, até culminar com a Semana do Contestado de Lebon Régis, quando já éramos um grupo de mais de 20 pessoas que, a partir do evento, continuaram se reunindo e visitando lugares e pessoas na sede e no interior do município, sobretudo em sítios históricos do Contestado espalhados por Lebon Régis e entrevistas com cidadãos que guardam a memória dos tempos e reflexos da Guerra do Contestado. Ao longo desses meses, até fazermos a recuperação do crematório, tivemos ampla ajuda da Prefeitura Municipal, dos Cavaleiros do Contestado, da Associação Cabocla de Lebon Régis, Paróquia de Santo Antônio, 104,9 FM, Clube de Desbravadores Guerreiros do Advento de Lebon Régis, Universidade Estadual de Londrina, por meio do Laboratório de Geografia, Território, Meio Ambiente e Conflito - GEOTMAC/UEL e do Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado - OCGC/UEL/UFPR, ambos coordenados por mim, na UEL.

O que será feito com os resultados dos estudos feitos no Crematório?

Os estudos e análises dos materiais coletados para exames de DNA serão apresentados durante o Congresso Brasileiro do Centenário da Guerra do Contestado: reconhecimento do crime de genocídio, direto à vida e à existência futura, que será realizado pelo Observatório do(s) Centenário(s) da Guerra do Contestado, com sede no Laboratório GEOTMAC da Universidade Estadual de Londrina, em parceria com as Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de Rondônia, Universidade do Centro-Oeste do Paraná e Universidade Estadual do Norte do Paraná, entre os dias 03 a 07 de outubro de 2016. Como resultado deste congresso, buscamos clamar os poderes públicos municipais, estaduais e federias, para o reconhecimento e salvaguarda do patrimônio material e imaterial da região da Guerra do Contestado.

Qual será a próxima atividade relacionada?

Convidamos a comunidade regional para a realização do evento Contestado: nossa serra, nossa guerra, nossa luta, que acontecerá no dia 12 de março de 2016, no salão paroquial da Igreja Católica da Serra da Boa Esperança, a partir das 10 horas da manhã e, no dia 13 de março, para a inauguração da restauração do Crematório de Perdizinhas, com missa cabocla de recomendação das almas, às 10:30h, nessa localidade de Lebon Régis.




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