PRIMEIRA ESTAÇÃO DE PORTO UNIÃO.
O jovem aguardava o trem que chegaria as cinco da manha com destino a Marcelino Ramos, sua viagem destino era Calmon, onde se encontraria com familiares depois de alguns anos.
Um fato ainda apavorava o rapaz, a cerca de quatro anos o povoado havia sido destruído pelos caboclos em busca de vingança.
A hora passa, dez para as cinco, o apito da locomotiva é ouvida atravessando a ponte de ferro sobre o Rio Iguaçu. O trem de ferro se aproxima da estação. O corre corre de pessoas é imenso.
O trem para na plataforma, pessoas descem por um lado do vagão, outros pelo lado de Santa Catarina, propriamente Porto União. Alguns tomam café, outros se preparam para carregar as bagagens. Aquele cheiro de café fresco chega as narinas dos viajantes. Cinco e meia o chefe de trem anuncia a partida, quando todos já estão acomodados. O apito da locomotiva é forte, mais um trem parte em direção ao Contestado.
Quando a subir a serra em direção a Engenheiro Melo, já na montanha quase seis horas o tempo mostra que vai ser ensolarado.
Algum tempo depois o trem apita, aproxima da estação de Engenheiro Melo, ainda em madeira, uma bela imagem se vê a beira da ferrovia. O trem para.
15 minutos depois o trem segue em direção a Aquiles Stenghel, outra estação, outra parada e assim segue.
Stenghel nova.
Em seguida, o trem parte para Nova Galícia, lá a parada é mais longa e o sol já aparece, mostrando que realmente a geada tinha sido forte, pois os campos a beira da linha estavam parecendo um tapete branco. No interior dos vagões o povo conversa, alguns comentam sobre o frio, outros falam da paisagem linda.
NOVA GALÍCIA, ESTAÇÃO ANTIGA.
Próxima parada é a estação de Cerro Pelado, a paisagem começa a mudar, a geada parece ainda mais forte, o frio também aumenta.
O saudosismo das estações marca o ambiente histórico e rico em vegetação, apesar da "fome" da Lumber, ainda a presença da mata preservada em alguns locais ainda é visível.
CERRO PELADO NOVA.
Tudo passa, enquanto isso o jovem levanta-se e segue em direção ao "buffet", onde compra biscoitos para comer durante a viagem.
Depois de uma lenta subida, com abastecimento de água e lenha para a locomotiva a vapor, avista-se a estação de Maquinista Molina já nos campos de São João dos Pobres, a paisagem do Contestado começa aparecer. Alguns viajantes falam do que havia acontecido na próxima estação.
ESTAÇÃO DE MAQUINISTA MOLINA.
Nesta parada o frio é imenso, mas crianças aparecem a beira da linha para apreciar as pessoas"diferentes" que viajam no trem.
Alguns minutos após o chefe de trem anuncia:
-Pessoal estamos chegando a São João, verifiquem suas bagagens, homens que possuem armas deixem a vista, esta região esta infestada de bandidos.
A fama que ficou em torno dos caboclos era imensa, mesmo muitos sabendo quem eram os verdadeiros bandidos, os homens a serviço da Lumber.
Primeira Estação de São João dos Pobres.
Já passa das 10 da manhã, o resfolegar vai cessando, até que para na plataforma, onde muita gente aguarda o trem. Fazia apenas quatro anos do dia em que João Teixeira de Matos Costa havia tombado a frente a uma emboscada preparada por Venuto Baiano.
A geada ainda não desaparecera, poucas casas se via a beira da ferrovia, era simplesmente um povoado.
ESTAÇÃO NOVA DE MATOS COSTA.
Falta pouco para o destino do jovem, Calmon, outro povoado totalmente envolvido com o Contestado.O sino da estação anuncia o embarque e logo depois a partida do trem e dos viajantes.
No interior dos vagões os comentários são diversos. Alguns citam que, crianças foram mortas a golpes de facão, outros exageram acrescentando que, mulheres tiveram suas cabeças penduradas em árvores.
O chefe de trem novamente faz um alerta, logo estaremos em Calmon, lá a carnificina foi maior.
Calmon, 1.909.
1.910 EM CALMON.
A paisagem nos campos de Calmon se confundem com o branco da geada que ainda é percebida, campos de se perder de vista, passam por uma caixa de água nos campos de General Dutra, local que existe a previsão da construção de mais uma estação. ( A estação foi construída em 1.940).
São 10 horas e 20 minutos quando o trem apita na serra da Pirambeira e logo depois para em frente a famosa estação de um povoado semi americano, parcialmente destruído, onde a serraria enorme da lumber já está novamente erguida. A estação também é nova, já que a primeira fora queimada em 1.914;
Finalmente o jovem está em casa, na plataforma a família aguarda ansiosa pela volta do filho, que havia seguido com os soldados, e agora retornava para casa.Estava finalmente em Miguel Calmon em SC.
Esta história faz parte das crônicas do Jornalista caboclo, o calmonense João Batista Ferreira do Santos.O JB.